
Verônica
Madrugada. O cinzeiro já estava cheio de cigarros apagados, exceto por um que continuava aceso, mantendo a sala em uma penumbra. Em uma das mãos de Verônica uma taça de vinho, a quinta que ela tomava em menos de meia hora. Essa noite ela optou por não jantar, na verdade sequer almoçou, comida era tudo que Verônica não havia pensado hoje. Em sua outra mão estava o celular, onde a cada dois minutos colocava a sua senha de desbloqueio e conferia seu WhatsApp, verificando sempre o último horário que seu contato chamado "Amor" havia visualizado suas diversas e extensas mensagens.
A dor que aquele silêncio causava, conseguia ser maior que a dor que a última discussão havia deixado. Fim de relacionamento, cobranças, perguntas sem respostas, desconfiança, vontade de ficar, vontade de ir embora, querer que aquilo dê certo, mas, rezar para acabar. Ruim com ele, pior sem ele.
Tudo naquele apartamento estava pesado, a madrugada iria ser longa, mais carteiras de cigarro seriam abertas, e outras garrafas de vinho terminariam.
Apartamento 304 - Terça-feira (3h15min da madrugada)
Daniel

Apartamento 402 - Terça-feira (4h10min da madrugada)
Lúcia

Apartamento 203 - Terça-feira (4h11min da madrugada)
Gustavo

Edifício - Terça-feira (8h00min da manhã)
Amanheceu. Amanheceu para cada um deles. A madrugada chegou ao fim. Todos levantaram de suas camas, tomaram seus banhos, vestiram alguma roupa e saíram pra rua, foram trabalhar, para seus compromissos e suas vidas.
Quem via Verônica caminhando pelo bairro não imaginava a noite de cão que ela havia tido, ninguém diria que ela estava sofrendo, e muito menos que sua cabeça não parava de latejar. As pessoas que repararam em Lúcia subindo no seu ônibus, nem desconfiaram da barra que ela vivia dentro de sua casa, quem ouvia ela agradecer o motorista não poderia acreditar que seu filho estava lutando com a morte. O sorriso na boca de Daniel e de Gustavo poderiam significar mil coisas, mas os verdadeiros motivos só eles sabiam.
Moral de tudo isso: Não Julgue, você nunca sabe o que se passa na casa ao lado, no apartamento acima. Acredite que tudo vai passar, tanto a angustia de Lúcia, o sofrimento de Verônica, e até mesmo a felicidade de Daniel e Gustavo. Tudo passa. Respire, e espere. Sempre amanhece, e a vida não para, até realmente parar.
Teu texto define a mais pura verdade, eu mesma me identifiquei em dois deles, quem vai saber o que se passa atrás de uma parede? A não ser quando os moradores gritam a plenos pulmões, kkkk Bj filhote
ResponderExcluirRetratando vidas e mais vidas mundo a fora. São bairros, cidades, estados. Uma roda viva. De gente cada um com suas dificuldades, descritas por você Felipe, sem modéstia, divinamente.
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