Ela Invadiu

Estou com saudade.
Aquela saudade que vem do nada e que toma conta de tudo
Ela invade a minha casa, senta no meu sofá, se aconchega no meio dos lençóis, e insiste em tirar um cochilo na minha cama. Ela toma espaço. Tira o meu espaço.
A saudade me encara, parada na frente da janela, acende um cigarro fedorento, impregnando toda a sala, as almofadas, roupas, absolutamente tudo fica com aquele cheiro, o cheiro da saudade.
Não tem o que fazer.
Não adianta fechar a porta. Tentar expulsar ela.
Ela chegou. É domingo à noite. Já é tarde.
A saudade não quer ir embora agora. Ela acabou de chegar, passou tantos dias longe.
Uma hora ela aparece. Normalmente aos domingos.
É como se fosse uma visita inconveniente.
Quando eu me dei conta ela estava ali, cheia de malas e de perguntas.
Sentou do meu lado e tratou logo de me fazer lembrar uma porção de histórias, que eu nem gostaria de recordar. Me mostrou fotos e cartas, eu também não queria.
Levantei. Liguei uma música. Acendi um incenso para disfarçar o cheiro do cigarro.
Eu disse que estava com sono, precisava dormir.
Por mim a saudade podia ficar por ali, no sofá mesmo, mas tinha que ficar bem quieta, e prometer que logo pela manhã já teria ido embora.
Eu dormi. Apaguei.
Acordei no meio da madrugada. Levantei e fui até a sala.
A saudade já tinha ido embora. Saiu no meio da noite, sem fazer nada de barulho.
Apenas foi embora.
Tudo bem ser assim. Ela vai aparecer uma vez ou outra, vai incomodar um pouco no inicio, mas não demora para ela ir embora.
Eu não posso esquecer disso.
Ela sempre vai embora. Ela some. E a verdade é que nunca vou saber até quando.
Mas tudo bem.
Eu to bem.
Estamos bem.